Resenha
Crítica
A
CABEÇA DE MEDUSA (1940 [1922])
Sigmund
Freud- v. XVIII – Ed. Imago.
Esse texto de Freud
datado de 1922 foi publicado postumamente, em 1940, na revista- a
qual ele mesmo fundara- a Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse.
Esse texto parece constituir um projeto futuro, de uma análise mais extensa
sobre o assunto, mas que não fora possível devido ao falecimento do pai da
Psicanálise (CHAVES; 2013).
O texto faz menção ao
mito de uma das três Górgonas descritas na mitologia grega: Medusa. Essa
criatura feminina era temida, pois quem olhasse a sua face seria imediatamente
petrificado, pois os olhos da Medusa se faziam perigosos. Depois de amaldiçoada
por Atena, a Górgona se refugia no reino noturno, escuro e de difícil acesso. Mais
tarde, sua cabeça é decepada pelo jovem Perseu.
Segundo Sigmund Freud
em sua análise interpretativa do mito e aquilo que permeia o psiquismo humano, mais
precisamente o inconsciente do homem, verifica que o terror da Medusa é assim
um terror da castração: Decapitar seria igual ao castrar. O horror ocorre
quando um menino, que até então não estava disposto a acreditar na ameaça da
castração, tem a visão dos órgãos genitais femininos. No mais, na cabeça da
Medusa povoam inúmeras serpentes. Dentro de uma análise interpretativa
psicanalítica, essas muitas cobras verificadas no mito e nas obras de artes
estão ligadas ao complexo de castração: “ [...] uma multiplicação de símbolos
de pênis significa a castração. (FREUD; 1996)”. Segundo, Coutinho Jorge (2010), essa
multiplicidade de símbolos armazenadas
no inconsciente pode ser indicativa da sua falta. Porém, por mais assustador
que possa ser a cabeça decepada da Medusa, metaforicamente comparada ao genital
feminino, as cobras são comparadas ao pênis e
minimizam o horror da falta, do vazio.
Freud, em seu
manuscrito, descreve que a visão da cabeça de Medusa torna aquele que a olha rígido de terror,
petrificando-o. Nessa passagem mitológica, Sigmund observa a mesma origem do
complexo de castração e a mesma transformação dos afetos, uma vez que ficar
petrificado, rígido tem o significado de ereção: O menino, ao ver sua mãe nua,
fica horrorizado por perceber a falta do pênis na genitália da mãe, porém, essa
mesma visão também o enrijece, ou seja, isso tende a minimizar seu terror, pois
o ficar rígido (ereção) o faz perceber que ainda está de posse de um pênis, tranquilizando-o.
Esse símbolo de horror torna a mulher (mãe) inabordável, repelindo os desejos
sexuais (do filho). Repelido a outro plano esse desejo será recalcado no inconsciente.
Nas vestes da deusa
Atena, a imagem da cabeça de Medusa – simbolicamente comparada aos órgãos
genitais femininos – está estampada em seu peito, assim como no seu escudo.
Esse símbolo de horror, o terrificante órgão genital feminino usado pela deusa virgem tem o poder de afastar os desejos sexuais. Portanto, trata-se de uma ação apotropaica: aquilo que tem poder de espantar o mal. Porém, o órgão masculino ereto, assim como seus substitutos, também tem a função apotropaica: a falta de medo, o desafio por ter ele o poder em forma de pênis e, com isso, uma maneira de intimidar, enfrentar o Espírito Mal.
Esse símbolo de horror, o terrificante órgão genital feminino usado pela deusa virgem tem o poder de afastar os desejos sexuais. Portanto, trata-se de uma ação apotropaica: aquilo que tem poder de espantar o mal. Porém, o órgão masculino ereto, assim como seus substitutos, também tem a função apotropaica: a falta de medo, o desafio por ter ele o poder em forma de pênis e, com isso, uma maneira de intimidar, enfrentar o Espírito Mal.
Contudo, apesar de na
Grécia antiga os gregos terem grande disposição à homossexualidade, era
inevitável encontrar entre eles a representação da mulher como um ser que
assusta e repele por ela ser castrada. No entanto, no mito e na interpretação
psicanalítica de Freud, é pensado a genitália da mãe que, posta na couraça de
Atena, tem a deusa o poder de se tornar
intocável, repelindo qualquer desejo ou pensamento sexual.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CHAVES, Ernani. A Cabeça de Medusa. Clínica & Cultura v.II, n.II, jul-dez 2013,
91-93.
FREUD, Sigmund. A Cabeça de Medusa. VXIII. Editora Imago- 1996
FREUD, Sigmund. Organização Genital Infantil [ 1923]. Cia Das Letras - pp.154 e 157
FREUD, Sigmund. Organização Genital Infantil [ 1923]. Cia Das Letras - pp.154 e 157
JORGE, Marco A. Coutinho. Fundamentos
da psicanálise de Freud a Lacan 2: A clínica da fantasia.
Ed Zahar. 2010; p. 189
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