Tear da Psicologia:

Tear da Psicologia:

ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER (1920)
Capítulo I
Sigmund Freud- v. XVIII– Ed. Imago

No primeiro dos sete capítulos que compõem o artigo “Além do Princípio do Prazer”, Sigmund Freud, dentro de uma perspectiva para embasar seus estudos psicanalíticos, abordou o quão envolvidos estão os processos mentais numa busca constante  por uma homeostase: equilíbrio de tensões pulsionais. Isso porque há uma tendência do psiquismo de buscar o prazer ( constância na a libido ou na diminuição da tenção provocada pelo desprazer) e evitar o desprazer (aumento da excitação, da a libido, fazendo com que o sujeito sinta como algo desprazeroso e, diante de uma tensão desagradável, os processos mentais irão em  busca do equilíbrio e que possibilite a descarga das tensões). Freud acreditava que os nossos pensamento estariam invariavelmente regulados por esse princípio do prazer.

Mais a frente, Freud identificará nos processos mentais relacionados ao princípio do prazer um fator ‘econômico’ no funcionamento psíquico. Esse fator comporá o que ele chama de Metapsicologia, que se trata de um conjunto de princípios teóricos: ‘topográficos’- no qual estão inseridos os estudos de Freud da primeira e da segunda tópica; ‘dinâmicos’- visa os estudos de forças, pulsões, nas quais regem os processos mentais e que exigem sua descarga; e o anteriormente citado, o fator ‘econômico’- estudo dentro de uma perspectiva quantitativa de como circula essa força pulsional – a libido- nos objetos escolhidos ou não pelo sujeito e a tensão provocada no psiquismo frente a sua descarga, repressão ou recalque. Princípios esses de grande importância para compreender a clínica psicanalítica.

Contudo, dar significado ao que cada um entende como prazer ou desprazer são significados que não são absolutos ou gerais. Por exemplo, na clínica psicanalítica, na sessão terapêutica, o paciente busca ajuda para se livrar de algo desprazeroso, conseguir alívio para determinados sintomas.  No entanto, nem sempre essa demanda pode ser verdadeira. Nesse sentido, poderíamos pensar no por que há recaídas no comportamento dos paciente após um tempo de melhora de seus sintomas? Ou então, porque nós, ora ou outra, nos percebemos pensando em algo que suscita tristeza, dor, quando que, conscientemente, a nossa intenção seria a de evitar tais lembranças aversivas, traumáticas, memórias dolorosas? Isso certamente não encaixaria no princípio do prazer. Descobrir os porquês dos conteúdos, eventos impulsionados por determinadas forças da psique que nos levam a alguns comportamentos  aversivos não é tarefa das mais fáceis. O pai da Psicanálise assinala que ‘trata-se da região mais obscura e inacessível na mente’, isso impossibilita a não relativização na humanidade de tais sentimentos.

Portanto, existem tensões motivadoras, conteúdos inconscientes que exigem sua descarga e que estão para além daquilo que, conscientemente, consideramos como prazer. Pensando nisso, Freud passará a questionar se os processos psíquicos são realmente baseados na dominância do principio do prazer, pois percebe que “[...] é incorreto falar na dominância do principio do prazer sobre os cursos dos processos mentais.” “[...] é que existe na mente uma forte  tendência ao princípio do prazer, embora essa tendência seja contrariada por certas outras forças ou circunstâncias de maneira que o resultado final talvez nem sempre se mostre em harmonia.”. Sigmund Freud percebe na sua clínica fenômenos psíquicos que estão para além desse princípio, circunstâncias as quais o princípio do prazer não se aplicaria, como nos comportamentos citados como exemplo no parágrafo anterior.

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SOBRE O INÍCIO DO TRATAMENTO (NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE I) (1913)

Sigmund Freud- v. XII – Ed. Imago.

Escher- Xadrez
Antes demais nada, é importante ressaltar que esse artigo faz parte de uma série de artigos datadas de 1911 a 1915 que compõem os “Artigos sobre a Técnica”. Freud inicia o artigo comparando o tratamento psicanalítico a metáfora do jogo de xadrez e que, semelhante ao tal jogo, somente o início do tratamento e o final admite ser sistematizado, ou seja, condições de impingi-lhe determinados critérios e regras. Contudo, mesmo assim, esses critérios estabelecidos, segundo Freud, se acham sujeitos a limitações devido ao funcionamento psíquico complexo de cada analisando. Além disso, Freud alerta que apesar de algumas regras elencadas por ele parecerem insignificantes elas adquirem importância ao longo do tratamento. Ao que tange as “regras”, o autor do artigo as considera como recomendações, uma vez que elas não são de cunho incondicional, isso porque a riqueza dos processos psíquicos de cada ser humano opõe-se a mecanização técnica. É pensar, discutir com base nessas recomendações e verificar onde o tratamento psicanalítico pode ser tornar possível.

Nesse artigo, Freud elenca algumas considerações quanto à seleção de pacientes. Antes de ele iniciar o tratamento efetua-se, no período de uma ou duas semanas, uma sondagem na intenção de conhecer o caso e decidir se ele é apropriado à psicanálise ou não.
Mesmo assim, ainda nessa fase preliminar do tratamento, deve ser conferido à essas entrevistas preliminares regras da psicanálise, deve deixar o paciente falar, não lhe explicando nada a não ser que seja importante para o paciente alguma explicação a fim de fazer com que ele dê continuidade ao que está dizendo. O importante é deixá-lo falar. Nesse período de tempo que ocorrem as entrevistas preliminares na qual se analisará a demanda, os sintomas, a relação inicial paciente/terapeuta é importante por oferecer ao psicanalista subsídio para que ele possa não vir a cometer equívocos, pois se ele der continuidade ao caso considerado desfavorável de uma paciente não analisável para o tratamento psicanalítico ele comete um erro prático, além de ser responsável por despesas desnecessárias e por em descrédito o método psicanalítico de tratamento.


Concernente a pacientes que possam ser amigos do analista, familiares ou ter laços sociais (trabalho, igreja, etc) deve estar preparado, pois isto pode lhe custar a amizade desses pacientes, não importando o resultado do tratamento. E quanto ao comportamento do paciente em confiar ou não inicialmente no tratamento, Freud considera como algo desprezível, pois em se tratando de confiança, está poderá ser frustrada na primeira dificuldade que esse paciente perceber na análise; quanto ao cético, sua desconfiança é encarada como um sintoma e não constituirá interferência, se o paciente aceitar as regras do tratamento.

Em relação ao investimento de tempo e dinheiro do analisando em sua saúde psíquica, Sigmund ressalta também a importância de serem acordados no início do tratamento o tempo - uma hora específica no dia para o  paciente vir as análises, e os honorários. É importante que o horário seja algo um pouco rígido, pois se do contrário fosse, as faltas ‘ocasionais’ aumentariam. Por isso é importante o acordo ser seguido para que diminua os impedimentos de ir ao consultório o máximo possível. Além disso, em se tratando de dinheiro, a gratuidade deve ser evitada, porque significa um sacrifício considerável de tempo de trabalho cujo tratamento se perdurará por um período longo, de meses até, e isso significa muito para um psicanalista. Assim como valores muito baixos devem ser evitados, pois que muitos pacientes costumam não atribuir um valor significativo, elevado ao tratamento. Valores muito abaixo ou a gratuidade deve ser evitado, pois podem colaborar para aumentar a resistência do analisando, o paciente pode ser ver em dificuldade, privado, por conta desse forte motivo, de esforçar-se em dar fim ao tratamento. Freud nos dá exemplo, trabalhou por dez anos gratuitamente, separando uma ou duas horas na semana para estudar determinados pacientes, acreditando ele que a gratuidade diminuiria a resistência deles a fim de penetrar nas suas neuroses. Suas conclusões foram contrárias, pois percebeu grande aumento da resistência. No entanto, há pacientes desprovidos de renda monetária cujo tratamento não remunerado não se depara com nenhum dos obstáculos acima mencionados, produzindo excelentes resultados.

Ao que tange a técnica da associação livre, o analista deve deixar que o paciente fale, podendo ele começar de qualquer ponto ou assunto e que aquilo que o paciente vai dizer difere de uma conversa comum. Deve-se dizer tudo o que se passa pela mente mesmo sendo algo desagradável, que o paciente seja honesto em não deixar nada de fora. Também não é interessante que o paciente distribua seu tratamento psicanalítico a amigos, familiares, pois isso faz com que importante material valioso seja vazado. Se isso ocorrer, Freud aconselha que o paciente considere a análise um assunto entre eles dois, isso se dá mais no início do tratamento, pois quando este se acha avançado, tal comportamento tende a não existir.

 Antes de a transferência ter sido eficazmente estabelecida, não deve o analista fazer comunicações ao paciente, não deve revelar a ele o significado oculto das ideias que lhe ocorre. É condenável qualquer conduta do analista que leve ao paciente a tradução do seu sintoma ou lançar a sua ‘ solução’ na primeira entrevista. A comunicação antecipada da ‘solução’ pode dar ao tratamento um fim intempestivo devido às resistências que subitamente pode despertar, assim, como também, o alívio que a solução trazia consigo contribui para o abandono do tratamento. Um bom analista, treinado, deve ter a habilidade de ler claramente os desejos secretos dos pacientes nas entrelinhas de suas queixas e da história da doença.


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