SOBRE O INÍCIO
DO TRATAMENTO (NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE I) (1913)
Sigmund Freud- v. XII – Ed. Imago.
Escher- Xadrez |
Antes demais nada, é
importante ressaltar que esse artigo faz parte de uma série de artigos datadas
de 1911 a 1915 que compõem os “Artigos sobre a Técnica”. Freud inicia o artigo
comparando o tratamento psicanalítico a metáfora do jogo de xadrez e que,
semelhante ao tal jogo, somente o início do tratamento e o final admite ser
sistematizado, ou seja, condições de impingi-lhe determinados critérios e
regras. Contudo, mesmo
assim, esses critérios estabelecidos, segundo Freud, se acham sujeitos a
limitações devido ao funcionamento psíquico complexo de cada analisando. Além
disso, Freud alerta que apesar de algumas regras elencadas por ele parecerem
insignificantes elas adquirem importância ao longo do tratamento. Ao que tange
as “regras”, o autor do artigo as considera como recomendações, uma vez que
elas não são de cunho incondicional, isso porque a riqueza dos processos
psíquicos de cada ser humano opõe-se a mecanização técnica. É pensar, discutir
com base nessas recomendações e verificar onde o tratamento psicanalítico pode
ser tornar possível.
Nesse
artigo, Freud elenca algumas considerações quanto à seleção de pacientes. Antes
de ele iniciar o tratamento efetua-se, no período de uma ou duas semanas, uma
sondagem na intenção de conhecer o caso e decidir se ele é apropriado à
psicanálise ou não.
Mesmo assim, ainda nessa fase preliminar do tratamento,
deve ser conferido à essas entrevistas preliminares regras da psicanálise, deve
deixar o paciente falar, não lhe explicando nada a não ser que seja importante
para o paciente alguma explicação a fim de fazer com que ele dê continuidade ao
que está dizendo. O importante é deixá-lo falar. Nesse período de tempo que
ocorrem as entrevistas preliminares na qual se analisará a demanda, os
sintomas, a relação inicial paciente/terapeuta é importante por oferecer ao
psicanalista subsídio para que ele possa não vir a cometer equívocos, pois se
ele der continuidade ao caso considerado desfavorável de uma paciente não
analisável para o tratamento psicanalítico ele comete um erro prático, além de
ser responsável por despesas desnecessárias e por em descrédito o método
psicanalítico de tratamento.
Concernente
a pacientes que possam ser amigos do analista, familiares ou ter laços sociais
(trabalho, igreja, etc) deve estar preparado, pois isto pode lhe custar a
amizade desses pacientes, não importando o resultado do tratamento. E quanto ao
comportamento do paciente em confiar ou não inicialmente no tratamento, Freud
considera como algo desprezível, pois em se tratando de confiança, está poderá
ser frustrada na primeira dificuldade que esse paciente perceber na análise;
quanto ao cético, sua desconfiança é encarada como um sintoma e não constituirá
interferência, se o paciente aceitar as regras do tratamento.
Em
relação ao investimento de tempo e dinheiro do analisando em sua saúde
psíquica, Sigmund ressalta também a importância de serem acordados no início do
tratamento o tempo - uma hora específica no dia para o paciente vir as análises, e os honorários. É
importante que o horário seja algo um pouco rígido, pois se do contrário fosse,
as faltas ‘ocasionais’ aumentariam. Por isso é importante o acordo ser seguido
para que diminua os impedimentos de ir ao consultório o máximo possível. Além
disso, em se tratando de dinheiro, a gratuidade deve ser evitada, porque
significa um sacrifício considerável de tempo de trabalho cujo tratamento se
perdurará por um período longo, de meses até, e isso significa muito para um
psicanalista. Assim como valores muito baixos devem ser evitados, pois que
muitos pacientes costumam não atribuir um valor significativo, elevado ao tratamento.
Valores muito abaixo ou a gratuidade deve ser evitado, pois podem colaborar
para aumentar a resistência do analisando, o paciente pode ser ver em
dificuldade, privado, por conta desse forte motivo, de esforçar-se em dar fim
ao tratamento. Freud nos dá exemplo, trabalhou por dez anos gratuitamente,
separando uma ou duas horas na semana para estudar determinados pacientes,
acreditando ele que a gratuidade diminuiria a resistência deles a fim de
penetrar nas suas neuroses. Suas conclusões foram contrárias, pois percebeu
grande aumento da resistência. No entanto, há pacientes desprovidos de renda
monetária cujo tratamento não remunerado não se depara com nenhum dos
obstáculos acima mencionados, produzindo excelentes resultados.
Ao que
tange a técnica da associação livre, o analista deve deixar que o paciente
fale, podendo ele começar de qualquer ponto ou assunto e que aquilo que o
paciente vai dizer difere de uma conversa comum. Deve-se dizer tudo o que se
passa pela mente mesmo sendo algo desagradável, que o paciente seja honesto em
não deixar nada de fora. Também não é interessante que o paciente distribua seu
tratamento psicanalítico a amigos, familiares, pois isso faz com que importante
material valioso seja vazado. Se isso ocorrer, Freud aconselha que o paciente
considere a análise um assunto entre eles dois, isso se dá mais no início do
tratamento, pois quando este se acha avançado, tal comportamento tende a não
existir.
Antes de a transferência ter sido eficazmente
estabelecida, não deve o analista fazer comunicações ao paciente, não deve
revelar a ele o significado oculto das ideias que lhe ocorre. É condenável
qualquer conduta do analista que leve ao paciente a tradução do seu sintoma ou
lançar a sua ‘ solução’ na primeira entrevista. A comunicação antecipada da
‘solução’ pode dar ao tratamento um fim intempestivo devido às resistências que
subitamente pode despertar, assim, como também, o alívio que a solução trazia
consigo contribui para o abandono do tratamento. Um bom analista, treinado,
deve ter a habilidade de ler claramente os desejos secretos dos pacientes nas
entrelinhas de suas queixas e da história da doença.
gostei bastante do material, foi de grande agregador de valores